quinta-feira, 30 de abril de 2009

Uso político do banco preocupa economistas

Os sinais dados pela nova direção do Banco do Brasil de que vai adotar iniciativas alinhadas com as políticas de governo provocam polêmica entre economistas e especialistas em finanças, especialmente quando se discute uma eventual redução agressiva do spread para forçar a competição e a queda dos juros dos bancos em geral.

José Julio Senna, ex-diretor do Banco Central e sócio da MCM Consultores Associados, mostra-se preocupado com o uso do BB para fazer política pública. "A história condena as ações do BB voltadas para a perseguição de uma política governamental.", diz Senna. "Se até hoje o spread não diminuiu, foi porque se respeitou o objetivo de lucratividade, um princípio pelo qual todos os outros bancos se pautam."

Segundo Senna, caso o novo presidente do BB parta do discurso de baixar o spread de maneira mais acentuada que outros bancos, poderá na melhor das hipóteses conquistar clientes, mas com a perda de rentabilidade e a fuga de acionistas.

Se a direção do banco insistir nessa política, a situação do caixa da instituição poderá se agravar, "colocando em risco a saúde financeira, o que exigiria recursos do Tesouro", opina.

Para o ex-diretor do BC, é pouco provável que a queda dos juros do BB induza outras instituições a fazer o mesmo movimento. "Os bancos privados podem, no máximo, acompanhar a redução de forma marginal. O sistema financeiro brasileiro é sólido, e isso não vai mudar", afirma Senna.

Para ele, há outras formas de derrubar os juros, como reduzir a tributação sobre operações financeiras e melhorar a recuperação de crédito no País. "O compulsório, por exemplo, é muito elevado, especialmente para depósitos à vista", diz Senna.

Mailson da Nóbrega, ex-ministro da Fazenda e sócio da consultoria Tendências, é funcionário de carreira aposentado pelo BB e está preocupado com o que pode resultar da política agressiva de redução do spread. "Parece um discurso para consumo doméstico. O setor privado não vai embarcar nessa história. Essa medida é parte de uma interpretação estapafúrdia do ministro da Fazenda (Guido Mantega)de que eles são os donos do banco. É um argumento de quitanda achar que a queda do spread do BB aumentará os empréstimos e que isso vai elevar os ganhos", analisa.

Já o ex-diretor do Banco Central, Carlos Thadeu de Freitas, concorda com a medida da direção do BB. "Os bancos públicos podem reduzir o spread desde que tenham um bom controle de qualidade na hora de emprestar. Isso vai forçar as instituições privadas, que hoje preferem os títulos públicos, a emprestar mais", diz o economista.
Estadão

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