Os sinais dados pela nova direção do Banco do Brasil de que vai adotar iniciativas alinhadas com as políticas de governo provocam polêmica entre economistas e especialistas em finanças, especialmente quando se discute uma eventual redução agressiva do spread para forçar a competição e a queda dos juros dos bancos em geral.
José Julio Senna, ex-diretor do Banco Central e sócio da MCM Consultores Associados, mostra-se preocupado com o uso do BB para fazer política pública. "A história condena as ações do BB voltadas para a perseguição de uma política governamental.", diz Senna. "Se até hoje o spread não diminuiu, foi porque se respeitou o objetivo de lucratividade, um princípio pelo qual todos os outros bancos se pautam."
Segundo Senna, caso o novo presidente do BB parta do discurso de baixar o spread de maneira mais acentuada que outros bancos, poderá na melhor das hipóteses conquistar clientes, mas com a perda de rentabilidade e a fuga de acionistas.
Se a direção do banco insistir nessa política, a situação do caixa da instituição poderá se agravar, "colocando em risco a saúde financeira, o que exigiria recursos do Tesouro", opina.
Para o ex-diretor do BC, é pouco provável que a queda dos juros do BB induza outras instituições a fazer o mesmo movimento. "Os bancos privados podem, no máximo, acompanhar a redução de forma marginal. O sistema financeiro brasileiro é sólido, e isso não vai mudar", afirma Senna.
Para ele, há outras formas de derrubar os juros, como reduzir a tributação sobre operações financeiras e melhorar a recuperação de crédito no País. "O compulsório, por exemplo, é muito elevado, especialmente para depósitos à vista", diz Senna.
Mailson da Nóbrega, ex-ministro da Fazenda e sócio da consultoria Tendências, é funcionário de carreira aposentado pelo BB e está preocupado com o que pode resultar da política agressiva de redução do spread. "Parece um discurso para consumo doméstico. O setor privado não vai embarcar nessa história. Essa medida é parte de uma interpretação estapafúrdia do ministro da Fazenda (Guido Mantega)de que eles são os donos do banco. É um argumento de quitanda achar que a queda do spread do BB aumentará os empréstimos e que isso vai elevar os ganhos", analisa.
Já o ex-diretor do Banco Central, Carlos Thadeu de Freitas, concorda com a medida da direção do BB. "Os bancos públicos podem reduzir o spread desde que tenham um bom controle de qualidade na hora de emprestar. Isso vai forçar as instituições privadas, que hoje preferem os títulos públicos, a emprestar mais", diz o economista.
Estadão
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