segunda-feira, 20 de abril de 2009

Pequenos grandes investidores

"Mãe, me dá um video game?", "Pai, aumenta a minha mesada?" Quem tem filhos sabe bem o quanto criança adora pedir e se encanta com tudo o que é novidade. Para os pais de Ramon Bastidas, a surpresa veio quando o menino pediu para conhecer a sede da Bovespa, em São Paulo. Além do pedido inusitado, Ramon, então com 12 anos, ainda se interessou pela possibilidade de investir em ações. Foi aí que seus pais decidiram procurar uma corretora e aplicar em um fundo de investimento em ações.

O diferencial é que o produto no qual os pais do menino investiram é específico para o público infantil. Atualmente, cada vez mais crianças e adolescentes se interessam por investir em mercado financeiro. Atentas a isso, as corretoras lançaram produtos como o fundo de investimentos Vida Feliz, da Spinelli Corretora, que foi a escolha de Ramon. Criado em 2005, o produto funcionava como clube de investimento. Em 2008, foi transformado em fundo de ações.

De acordo com o diretor da Spinelli, Manuel Lois, os adultos se inscrevem no Vida Feliz como responsáveis legais da criança, que já deve ter CPF próprio. "Não existe obrigatoriedade de depósitos semanais ou mensais. Deve-se apenas investir um valor mínimo inicial de R$ 50. Todos os recursos são aplicados no mercado pela Spinelli. Não existe limite de idade, mas vale lembrar que quanto mais cedo se inicia o investimento, maior o período de acumulação de capital e aumentam as chances de retornos consistentes", explica.

Atualmente, 101 crianças participam do Vida Feliz. O adulto pode fazer para o filho, para o irmão ou para o afilhado. Popularmente, pais e parentes optam por aplicar em poupança, pela tradição do investimento. No entanto, a vantagem de investir em renda variável é a rentabilidade no longo prazo, que funciona bem para o público infantil. Como os fundos têm como lastro as ações e o desempenho das empresas que compõem sua carteira, a remuneração do investidor tende a ser maior do que a possibilitada por outras aplicações, como a poupança, que tem remuneração definida pelo governo.

"Isso se deve ao fato de que no longo prazo, as ações ainda tendem a ter uma curva de valorização mais interessante, a despeito de sustos como os recentes, que reduzem a rentabilidade no curto prazo. Porém, passada a turbulência, a rentabilidade média das Bolsas deve ser maior do que qualquer outra aplicação", diz Lois.

Dados da BM&FBOVESPA informam que o número de contas abertas na faixa etária de 0 a 15 anos foi de 1.991 mil, em fevereiro. Esse montante movimentou R$ 140 milhões mensais, o equivalente a 22% do total de recursos alocados na Bovespa.

Pode-se dizer que boa parte destes investidores tem perfil parecido com o de Ramon. São crianças que se informam pelos noticiários econômicos, conversam com os pais sobre a importância da educação financeira e acham que dinheiro serve para muito mais do que comprar um jogo, uma bicicleta ou gastar no shopping. "Me interesso muito pelos investimentos em renda variável e meus pais sempre falam sobre como poupar meu capital. Eu já tinha poupança, li livros sobre educação financeira, assisto a Bloomberg e acompanho o desempenho do fundo pelo site da corretora. Invisto na Bolsa porque nos últimos anos o Ibovespa bateu (com folga) a caderneta de poupança", explica, com ares de gente grande, Ramon, que agora está com 14 anos.

"Eu o orientei a diversificar. Daí, a poupança e o dinheiro junto ao fundo. Conversamos muito sobre a ilusão de que a futura compra de um carro pudesse ser um investimento, e também sobre a renda que pode ser obtida com o aluguel de imóveis ou coisas do tipo", explica o pai, Claudio Bastidas.

Ainda no finalzinho do século 20, a Coinvalores já tinha identificado a atratividade do segmento e lançou, em 2000, o fundo Coinvalores Kids, exclusivamente para menores de 18 anos. "A criação foi devido à expectativa identificada na época, pois já esperávamos um bom desenvolvimento da economia de nosso país, de nossas empresas e também de um maior interesse das pessoas, buscando uma alternativa mais rentável no longo prazo frente à tradicional poupança", relembra o consultor de fundos da corretora, Marcelo Rizzo.

fundos em alta. O Coinvalores Kids é 100% composto por renda variável, gerido pela Bradesco Asset Management, distribuído e administrado pela Coinvalores. O benchmark é o IBX. Capitaneado, basicamente, pelas Blue Chips, o produto tem taxa de administração de 0,5% ao ano e a aplicação inicial é de R$ 500. Os depósitos são efetuados na conta da corretora e, posteriormente, alocados no fundo, transformado em número de cotas.

Com a retomada da Bovespa, os fundos voltaram a ser a menina dos olhos dos investidores. Ainda assim, mesmo no auge da crise financeira mundial, os produtos conseguiram manter a atratividade. "Nos últimos seis meses houve apenas 15 resgates, mas no mesmo período registramos 107 aplicações", contabiliza Rizzo. De acordo com dados da corretora, em março deste ano, o Coinvalores Kids valorizou-se 8,10%, enquanto o IBX rendeu + 7,39%; o acumulado no ano é de + 13,04%, ante +10,10% do IBX. No pico da crise, o fundo perdeu -9,22%, no entanto, o IBX desvalorizou-se -16,49%.
Valor

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