quarta-feira, 15 de abril de 2009

Bolsa, será que vai longe?

Alta do Índice Bovespa de 10,98% no mês e de 20,95% no ano. Pontuação de 45.418 pontos, o melhor nível desde outubro do ano passado. Será que esta é a hora de o investidor pensar em entrar na bolsa? E quem já está, é hora de sair? São questões que incomodam não apenas os poupadores, mas a maioria dos analistas do mercado, e se referem à durabilidade da recuperação da Bovespa. Alguns acreditam que o pior já ficou para trás e que a tendência da bolsa voltou a ser de alta. Outros acham que é apenas um movimento de ajuste e a tendência ainda é de queda - neste caso, a alta atual seria o que os analistas chamam de rali de curto prazo de mercado em baixa, ou usando a expressão da moda, um "bear market rally".

O investidor que entrou no pico da bolsa, em maio do ano passado, quando o índice estava nos 70 mil pontos, ainda está longe de recuperar as perdas, mas já reduziu bem o prejuízo em relação ao fim do ano passado. Já quem teve sangue-frio e entrou no mercado no pior momento, quando o Ibovespa bateu nos 29 mil pontos, está rindo à toa, com um ganho de 55%. O pior cenário é o de quem se desfez das ações no auge da crise: perdeu a recuperação e agora está tentado a voltar.

A questão se é o momento de quem está ganhando sair, ou não, do mercado depende do prazo que o investidor quer usar o dinheiro, afirma Walter Mendes, superintendente de renda variável do Itaú Unibanco. "Se ele precisa do dinheiro no médio prazo, até o fim do ano, para comprar uma casa ou um carro, pode ser hora de colocar o dinheiro no bolso", diz. Já se o horizonte é mais longo, para a aposentadoria, por exemplo, não é preciso ter pressa. "Podemos ter algumas realizações, algumas quedas, pois o cenário externo continua conturbado, mas o mercado parece ter entrado em um canal de alta", diz Mendes, que estima o Ibovespa em 55 mil pontos no fim deste ano e em 65 mil no fim de 2010. Nesse caso, sair para voltar no curto prazo pode trazer o risco de o investidor perder parte da recuperação.

Já com relação a quem está fora, pode ser melhor esperar para entrar em um nível mais baixo, diz Roseli Machado, responsável pela Fator Administração de Recursos (FAR). "Depois de uma alta tão forte e rápida como esta, 11% em 14 dias, o mercado pode ficar estável por um bom tempo ou até recuar diante de números ruins da economia dos EUA", diz Roseli. Ela dá o exemplo dos dados fracos sobre as vendas do varejo americano ontem, que fizeram a bolsa recuar aqui e no exterior.

O mercado continua conturbado, com expectativa de crescimento econômico mundial abaixo da média dos últimos anos, mas os preços estavam muito deprimidos, o que justifica essa recuperação recente, afirma Roseli. "Houve uma recomposição de estoques depois da parada geral do fim do ano passado, a China voltou a comprar minérios e isso animou os investidores", diz.

A questão, afirma Roseli, é se esta recuperação é sustentável para compensar ao investidor ficar com as ações até o índice chegar aos 55 mil pontos no fim do ano - uma certa unanimidade entre os analistas - ou se é melhor vender para recomprar por preços menores. "Nós achamos mais interessante vender e esperar o mercado cair para voltar, pois ainda há muito chão pela frente", afirma Roseli.

Ela cita os problemas causados pela perda do poder de compra do consumidor americano, que viu seu patrimônio cair com a baixa das ações e dos preços dos imóveis. "O Dow Jones subiu recentemente, mas ainda perde 6% este ano e 36% em 12 meses, e os imóveis caíram 25% em média, são perdas que têm impacto no ânimo do consumidor", avalia Roseli. Além disso, o socorro aos bancos americanos ainda está no papel e há uma expectativa de problemas sérios com inadimplência das pessoas físicas com cartão de crédito, que podem provocar nova onda de desconfiança no sistema financeiro. "Por isso, estamos receosos em ficar com ações nesse nível de preços", diz Roseli.

Grande parte da recuperação do mercado brasileiro foi provocada pela volta dos investidores estrangeiros, diz Mônica Araújo, estrategista da Ativa Corretora. Foi também o que fez as ações de empresas de commodities, como Petrobras e Vale, queridinhas dos estrangeiros, figurarem entre as maiores altas. "Há um aumento da participação dos estrangeiros na bolsa, o que é reflexo da maior estabilidade econômica lá fora", explica. Isso reduz a aversão ao risco e aumenta o potencial de investimento em mercados com maior possibilidade de retorno e bons fundamentos, como o Brasil, diz Mônica. Neste mês, até dia 8, o saldo de estrangeiros na Bovespa está positivo em R$ 1,482 bilhão, metade do superávit do ano, de R$ 2,821 bilhões. A questão, diz Mônica, é se esse dinheiro veio para ficar ou se é apenas especulação de fundos hedge de curtíssimo prazo, que podem sair tão rapidamente quanto entraram.

Além disso, não se pode descartar a possibilidade de uma queda do mercado em função da piora dos fundamentos econômicos internacionais, alerta Mônica. "Houve uma revisão do ambiente extremamente negativo em que estávamos no fim do ano passado, mas isso não significa que os problemas foram resolvidos." O mercado hoje reflete bem essa melhora, com o Ibovespa podendo se estabilizar acima dos 40 mil pontos. Mas a tendência de queda de atividade para 2009 se mantém. "O que houve foi que as medidas do governo americano ajudam a destravar alguns mercados, como o de crédito, o que melhora as expectativas para a economia em 2010", diz Mônica, que também trabalha com 55 mil pontos para o Ibovespa no fim do ano.

Valor Econômico

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