A negociação para uma união com a Perdigão começou em janeiro e parou pela falta de consenso nos valores. O que os controladores da Sadia pediram foi considerado excessivo pela Perdigão.
Hoje, as conversas estão paradas. Podem até ser retomadas. O que, segundo fontes ligadas à Perdigão, só ocorrerá se a Sadia levantar a bandeira branca, disposta a baixar as exigências.
Perto de 20 de janeiro, as empresas assinaram um contrato de confidencialidade e exclusividade por 60 dias para tentarem alcançar um acordo de fusão, liderado pela Perdigão. Esse prazo já vai expirar, o que ajuda a entender a agitação dos envolvidos em torno do tema.
Ambas as empresas montaram grupos de trabalho para a empreitada. De um lado, a Sadia com o escritório Barbosa, Müssnich & Aragão e o Banco Bradesco de Investimentos (BBI). Do outro, a Perdigão com o banco UBS Pactual e com o time de advogados do Bocater, Camargo, Costa e Silva. Na mesa, uma complexa equação de interesses.
Mas não houve nenhum contrato de obrigatoriedade de acordo ou pagamento de multa em caso de falta de consenso.
O modelo pensado para a transação previa a capitalização da Perdigão pela BNDES Participações e a aquisição das ações da Sadia com papéis da concorrente. O dinheiro recebido seria usado para atender às necessidades de recursos da Sadia, agora já com um novo dono. De acordo com pessoas próximas ao governo ouvidas pelo Valor, o dinheiro para a Sadia só virá com o afastamento da família do poder.
Seria um negócio semelhante à união entre Votorantim Celulose e Papel (VCP) e Aracruz -- esta última também sofreu perdas bilionárias e perdeu fôlego com derivativos. O BNDES capitalizou a VCP e não a Aracruz. A diferença é que no caso das empresas de papel e celulose a aquisição do controle da Aracruz será liquidada em dinheiro e haverá uma troca de ações com os preferencialistas.
Já nas empresas de alimentos, se a operação tivesse avançado, a troca de ações seria a forma de aquisição da Sadia e tanto as ordinárias como as preferenciais da empresa possuem direito de oferta em caso de troca de controle, por 80% do que os donos receberem na venda.
A capitalização do BNDES teria papel importante, além de trazer liquidez: o banco iria compor junto com os fundos de pensão que comandam a Perdigão uma estrutura acionária mais forte para fazer frente à diluição produzida pela absorção da Sadia.
Atualmente, os seis maiores fundos de pensão do país comandam a Perdigão com 36% do capital total (formado apenas por ações ON). Logo, um aumento de capital para assumir o comando da rival reduziria sensivelmente a participação das fundações, ameaçando a estrutura de poder.
As famílias controladoras da Sadia queriam 10% da companhia resultante, o que seria uma fatia grande, considerando a estrutura pulverizada em diversos sócios da companhia combinada. Foi aí que a discussão emperrou.
A empresa resultante teria valor de R$ 9,4 bilhões na Bovespa, considerando o fechamento de ontem. Assim, os atuais donos da Sadia teriam algo como R$ 940 milhões em mãos, o que representaria um prêmio sobre o que vale a fatia detida na companhia sozinha, estimada em R$ 810 milhões.
A Perdigão acredita que o tempo está ao seu favor, já que a situação de liquidez da Sadia aperta a cada dia. O analista do Marcel Moraes, do Credit Suisse, estima que a Sadia tenha dívidas de curto prazo de R$ 3,5 bilhões para vencer, na maioria, até setembro.
Por conta dos derivativos, a Sadia deve divulgar no dia 27 o pior balanço de seu história, cujos números o mercado tem dificuldade de estimar com precisão. Relatório do Bank of America Merrill Lynch projeta um prejuízo de R$ 1 bilhão em 2008. As despesas financeiras são estimadas pelos analistas entre R$ 2,1 bilhões e R$ 2,5 bilhões.
Apesar de alegar situação de conforto, a Perdigão tem consciência de não ser a única interessada. Conforme o Valor apurou, a JBS tem apetite, apesar de não ter ocorrido nenhum contato. A razão maior é o peso da marca Sadia no mercado interno e sua rede de distribuição. E a empresa, que a é maior de carne bovina do mundo, tem dinheiro para investir. A JBS fechou 2008 com US$ 1 bilhão em caixa já que acabou não efetivando a compra da National Beef.
Valor Econômico
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