quarta-feira, 25 de março de 2009

Investidor vai ao shopping

As ações das quatro empresas de shopping centers listadas na Bovespa - BRMalls, Iguatemi, Multiplan e General Shopping - acumulam fortes altas nas últimas semanas devido aos bons resultados apresentados no quarto trimestre. Para 2009, analistas de investimentos ouvidos pelo Valor avaliam que o setor deve sentir menos o impacto da crise econômica do que o mercado imobiliário. Os níveis de ocupação nos shoppings brasileiros continuam em patamares recordes, a inadimplência dos lojistas está sob controle e as vendas do varejo ainda mostram sinais positivos, apesar da crise.

Desde fevereiro, os papéis da BRMalls acumulam uma alta de 30%; as ações da General Shopping avançaram 45%, enquanto os papéis da Iguatemi e da Multiplan valorizaram-se 17% e 14,4%, respectivamente. Os ganhos superam com ampla margem o Ibovespa, que acumulou no período valorização de 7,3%. Os balanços apresentados pelo setor ficaram acima das expectativas iniciais dos analistas, que voltaram a recomendar as ações das companhias.

A administração da Iguatemi divulgou na semana passada que espera que sua receita cresça entre 9% e 12% em 2009. A companhia também prevê manter sua margem de lucro operacional (lajida) próxima a 70% e reiterou o compromisso de distribuir pelo menos 50% do lucro líquido aos acionistas até 2010. As outras três companhias não revelaram suas estimativas de desempenho para este ano.

"Estava todo mundo esperando que fosse cair uma bomba atômica, mas isso ainda não aconteceu ", afirma presidente da General Shopping, Alessandro Veronezi. Segundo ele, o varejo já não vive mais a euforia de 2008, mas as vendas dos lojistas, de forma geral, têm se mostrado estáveis neste primeiro trimestre. O desempenho, porém, ainda não é suficiente para que encorajar uma retomada dos investimentos. "Criou-se um clima de desconfiança e só o tempo vai dar calma ao mercado", afirma o executivo da General Shopping.

Segundo analistas, os investidores, sobretudo os estrangeiros, começaram a separar o joio do trigo no Brasil e passaram a diferenciar as empresas de shopping centers das companhias do setor de construção, como Cyrela, Gafisa e Rossi. Nos Estados Unidos, a indústria de shoppings é avaliada pelo mercado de capitais como um negócio imobiliário. E o centros comerciais atravessam maus momentos no mercado americano, onde os índices de vacância subiram devido à forte queda das vendas das varejista.

Com a escassez de crédito e a elevação do custo do dinheiro no Brasil, as construtoras também passaram a enfrentar dias difíceis, o que derrubou o preços das ações do setor na Bovespa.

As companhias brasileiras de shopping centers entraram no mesmo pacote e também tiveram uma forte desvalorização nos últimos seis meses na bolsa. Mas o setor tem mostrado uma maior resiliência à crise econômica do que se esperava.

Os aluguéis pagos pelos lojistas, que costumam ser indexados ao índice de inflação IGP-DI, foram reajustados sem maiores conflitos em 2008. Até agora, não há sinais de que os shopping centers terão problemas para renová-los e nem há indícios de atraso nos pagamentos. Segundo um analista, as vendas das varejistas cresceram acima da inflação nos últimos três anos, o que facilitou as negociações com os proprietários de shopping centers.

Com a crise, é de se esperar que não haja uma expansão do consumo e que as vendas do varejo acompanhem os índices de inflação. Mas, ainda assim, o varejo teria "gordura" para suportar um período mais fraco da demanda sem ter de fechar lojas nos shoppings, afirma um analista. Reabrir essas unidades depois pode custar mais caro, acrescenta.

As ações da BR Malls, a maior empresas de shoppings em área bruta locável (ABL) do país, foram as preferidas dos investidores, acumulando as maiores altas do setor na bolsa. No entanto, a corretora Ativa acredita que pode "haver algum tipo de ajuste" nos preços das ações das demais companhias do setor, como a Iguatemi, que estão "atrasados" em relação à BRMalls. Segundo relatório da corretora, a Iguatemi divulgou resultados dentro do esperado e confirmou suas previsões para 2009.

Controlada pela GP Investimentos e pelo magnata americano Sam Zell, a empresa realizou uma série de aquisições desde 2006 e elevou sua receita líquida em 35,7% no quatro trimestre de 2008 em relação a igual período de 2007. Na última linha, porém, a BRMalls registrou prejuízo de R$ 4,6 milhões devido à correção cambial de um bônus perpétuo atrelado ao dólar, mas esse reajuste só possui efeito contábil, sem representar desembolso de caixa. Sem isso, a empresa teria um lucro superior a R$ 35 milhões no quarto trimestre.

O lucro antes dos juros, impostos, depreciação e amortização da BRMalls cresceu 70% nos últimos três meses de 2008 sobre igual trimestre de 2007, totalizando R$ 81,8 milhões. Nessa linha, a empresa registrou a maior taxa de crescimento entre as empresas do setor listadas na Bovespa.

Ao contrário da BRMalls, a Iguatemi e Multiplan são as mais antigas empresas de shopping centers do Brasil e possuem em seus portfólios empreendimentos já consolidados - e também os mais valorizados do mercado. A Iguatemi é dona do shopping que deu nome à empresa em São Paulo e a Multiplan controla, entre outros empreendimentos, os shoppings Morumbi e Anália Franco, na capital paulista, e o BarraShopping, no Rio.

A receita líquida da Iguatemi cresceu 32% no quatro trimestre de 2008 sobre igual período de 2007 e o lajida foi 22,5% maior. Maior empresa do setor em faturamento, a receita líquida da Multiplan totalizou R$ 125 milhões no quarto trimestre, cifra 22,5% superior à obtida em igual trimestre do exercício anterior, enquanto o lajida cresceu 17,8%.

Assim como BRMalls, a General Shopping também cresceu por meio de aquisições nos últimos três anos, dirigindo o seu foco para empreendimentos populares, para as classes B e C. Embora seja a menor em tamanho entre as empresas do setor listadas na Bovespa, a empresa registra as taxas mais aceleradas de crescimento , com um aumento de 57,9% em sua receita líquida no quarto trimestre.

Segundo Veronezi, os oito empreendimentos adquiridos pela General Shopping entre o terceiro trimestre de 2007 e o primeiro semestre de 2008 apresentaram fortes ganhos de eficiência. O valor médio do aluguel cobrado nesses empreendimentos saltou de R$ 73 para R$ 138 por metro quadrado, ou 90%. No shopping de Suzano (SP), por exemplo, a taxa de vacância caiu de 5,5% para 1,7% e a área bruta locável do empreendimento foi expandida de 13 mil para 19 mil metros quadrados.

Valor Economico

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