Da lista, algumas empresas desapareceram, outras foram compradas e algumas não apresentaram bom desempenho. Nomes famosos na época, ícones do sucesso como Kodak, J.C. Penney e Xerox, praticamente morreram na praia. A confiança na sustentabilidade eterna daquelas gigantes simplesmente se mostrou infundada.
Assim costuma funcionar o capitalismo, com sua "destruição criadora", como dizia Schumpeter. Afinal, quantas empresas existem com mais de um século de vida? Em países com economias mais livres e dinâmicas, essa mortalidade é ainda mais acelerada. Várias novas empresas desbancam as vencedoras de antes e a concorrência e o avanço tecnológico vão enterrando diversas delas pelo caminho. O próprio sucesso pode plantar as sementes do fracasso gerando complacência e arrogância. Medidas arbitrárias de governos podem mudar as regras no meio do jogo e favorecer algumas empresas, enquanto prejudicam outras.
As crises costumam ser responsáveis pelo óbito de muitas gigantes também. Não poderia ser diferente na crise atual. Uma boa analogia é uma pescaria com dinamite: primeiro vão surgindo os pequenos peixes na superfície e somente depois aparecem as baleias boiando. Na crise, os mais fracos morrem rapidamente vítimas da explosiva combinação da alta alavancagem com o sumiço da liquidez dos mercados. Incapazes de acessar capital e sem a blindagem de serem "too big to fail", essas pequenas empresas são as primeiras a migrar para o cemitério. Mas as baleias vêm em seguida.
E que baleias! Na crise atual, gigantes como a Fannie Mae, Freddie Mac, AIG e Citigroup assinaram seu atestado de óbito. Quem poderia pensar há poucos anos que as ações do conglomerado financeiro Citigroup valeriam aproximadamente um mísero dólar? Até mesmo a General Electric, vista como grande exemplo de sucesso duradouro, viu suas ações desabarem vertiginosamente. Atualmente, elas não chegam a valer um décimo do que já valeram poucos anos atrás.
Não existe apenas uma estratégia de sucesso nos mercados financeiros. Existem especuladores com curto horizonte de tempo que ganham muito dinheiro, assim como investidores que focam no longo prazo e conseguem excelentes retornos também. Mas é preciso ter em mente que a estratégia de simplesmente apostar nas grandes empresas vencedoras de hoje e fechar os olhos, contando que seu sucesso será permanente, pode ser muito arriscada.
O famoso especulador do começo do século XX, Jesse Livermore, teria dito: "Os investidores de longo prazo são os grandes jogadores. Fazem uma aposta, plantam-se nela e, se der errado, podem perder tudo. O especulador inteligente agirá rapidamente, mantendo as suas perdas num mínimo". Nem todos precisam concordar com ele. Mas não custa manter-se alerta para o fato histórico de que as vencedoras de hoje podem ser as baleias mortas de amanhã. Alguém está disposto a apostar de olhos fechados que a Google e a Microsoft serão ainda as grandes vencedoras em 10 ou 20 anos?
Afinal, nem mesmo as baleias estão imunes à "destruição criadora" da dinâmica capitalista. Ainda mais nos setores com mais tecnologia, onde o progresso se dá mais rápido. Algumas vezes, aquelas que são grandes demais para fracassar, simplesmente fracassam. Essa é mais uma importante lição que se pode tirar da crise atual. Trata-se de uma constatação bastante óbvia, principalmente no auge da crise, quando as ações da GE estão em queda livre e os investidores sentem no bolso a dor. Mas esse raciocínio costuma ser ignorado na era da bonança, quando os investidores extrapolam o sucesso recente para a perpetuidade e passam a crer que as grandes empresas não correm risco de fracasso.
Como o astronauta Frank Borman disse, "capitalismo sem bancarrota é como Cristianismo sem inferno". Não faz sentido uma coisa sem outra. Ele sabia do que estava falando. Afinal, ele foi CEO da Eastern Airlnes, uma das grandes empresas do setor aéreo em 1970, mas que acabou liquidada em 1991, encerrando 65 anos de história. Que fique registrada a lição: nenhuma árvore cresce indefinidamente até o céu.
Rodrigo Constantino
Valor Econômico
Nenhum comentário:
Postar um comentário