Para um passo mais ousado na consolidação setorial, a mineradora precisará de muitos bilhões a mais. "O montante é curioso, em nossa visão. Parece pouco para uma corrida pela Freeport-McMoRan Copper & Gold, que poderia requerer mais US$ 50 bilhões em dívida", comenta o analista Alexander Hacking, do Citi, citando uma potencial candidata à aquisição pela Vale também destacada por outros especialistas. Por hora, os recursos melhorarão a estrutura de capital e ajudarão a fazer frente tanto a investimentos em aumento de capacidade quanto em aquisições.
Embora não seja suficiente para isoladamente bancar um grande negócio, o anúncio da Vale deixou o mercado convencido de que ela se prepara para lançar uma oferta hostil internacional. As apostas recaem, num primeiro momento, sobre a Anglo American, quarta maior do mundo. A avaliação é que a brasileira está se armando para ir à guerra.
Depois de engordar substancialmente o caixa, que estava em US$ 2,2 bilhões em março, a companhia estará em posição mais confortável para lançar-se em batalhas hostis de aquisição. Como a dívida líquida estava em US$ 18,3 bilhões no encerramento do primeiro trimestre, o ingresso de capital almejado melhorará significativamente a alavancagem. "A dívida líquida ficaria próxima de zero", segundo o analista Jorge Beristain, do Deutsche Bank.
A megaoferta de ações, que poderá ocorrer no segundo semestre, deixará a mineradora confortável para fazer uma captação em dívida entre US$ 50 bilhões e US$ 80 bilhões. E importante: após a operação, mesmo uma alavancagem desse porte não ameaçaria o grau de investimento da segunda maior mineradora do mundo. Isso porque a relação entre a dívida e o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (lajida) não passaria de 2,5 vezes. Além de potenciais compras, a Vale possui um plano estratégico já anunciado de investimentos de US$ 59 bilhões.
O anúncio da companhia na manhã de ontem foi recebido sem surpresas pelos analistas setoriais. Desde a semana passada, circulavam rumores de que a Vale poderia fazer uma grande emissão de ações. O Banif Investment Bank chegou a escrever, na quarta-feira, que a companhia anunciaria uma operação de US$ 12 bilhões - bastante próximo do valor efetivamente divulgado pela empresa. Os rumores circularam com força durante evento do setor de siderurgia promovido pelo Instituto Brasileiro de Siderurgia (IBS), no Sofitel, no Rio de Janeiro.
A diretoria da Vale, segundo o comunicado, aprovou a realização de uma oferta primária no dia 26 de maio. Só ontem cedo, porém, decidiu informar que submeterá tal tema ao conselho de administração.
Embora a estrutura societária da Vale permita que a emissão seja toda em ações prefereciais classe A, a companhia informou que também serão ofertados novos papéis ordinários (ON, com direito a voto). O capital total da mineradora é composto 60% por ordinárias e 40% por preferenciais, embora o estatuto da empresa admita a emissão de papéis sem direito a voto até dois terços da quantidade total. Bastaria o conselho aprovar, sem necessidade de mudança do estatuto. O documento permite que a companhia aprove emissões de ações que, pelas atuais cotações em bolsa, somem cerca de R$ 290 bilhões.
Ainda não há detalhes sobre a quantidade de papéis a ser emitida. Também não há informações se os atuais controladores participarão da operação para não serem diluídos. Grandes acionistas do bloco de controle como a Bradespar e a Previ não se posicionaram.
Os analistas, entretanto, não consideram a possibilidade de redução da fatia detida pela holding controladora, a Valepar. A companhia reúne a Previ, fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil , BNDESPar, Bradespar e ainda o grupo japonês Mitsui & Co.. No máximo, julgam possível um rearranjo das fatias em Valepar, embora a operação não seja suficientemente grande para mudanças substanciais. A diluição na participação dos acionistas que não participarem da oferta será da ordem de 9%.
Para Eduardo Roche, gerente de renda variável do Modal Asset, a oferta primária vai preservar a relação entre ordinárias e preferenciais. Na sua análise, o risco de perda de controle pelos atuais acionistas ocorreria em duas situações: conversão de preferenciais para ordinárias ou uso da ação com direito a voto como moeda de troca para uma aquisição. "Neste caso atual, o risco de diluição é zero."
Na visão do Banif Investment, a decisão de ofertar ordinárias tem relação tanto com o desejo dos controladores de manterem sua participação inalterada quanto com o apetite do investidor estrangeiro, que concentra suas apostas nesse tipo de papel.
Nos relatórios divulgados hoje, os analistas do Deutsche Bank, Citi e Goldman Sachs mantiveram a recomendação de compra para as ações da empresa.
Atualmente, 39,1% das ações ordinárias e 98,3% das preferenciais da companhia estão em circulação no mercado, equivalente a cerca de R$ 160 bilhões - ou 60% do valor de mercado da empresa na bolsa paulista.
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