Por Lílian Cunha e Ana Paula Ragazzi, de São Paulo
Pouco mais de um mês depois de sua estréia na Bovespa, a fabricante de bens de consumo Hypermarcas anunciou ontem o primeiro passo de seu plano de expansão. Por meio de troca de ações, ela comprou o Laboratório Americano de Farmacoterapia (Farmasa). Como resultado da operação, os atuais acionistas do laboratório, que incluem a GP Investimentos, passarão a ser donos de metade da empresa de consumo, com assentos no conselho de administração.
A Hypermarcas pagará (em ações) o equivalente a R$ 873,4 milhões no negócio. O valor atribuído à Farmasa nessa transação é quase o dobro do considerado na operação com a GP Investimentos. Em novembro de 2007, o fundo de participações adquiriu metade do laboratório por R$ 241,6 milhões.
A Hypermarcas emitirá 39,7 milhões de ações ordinárias (ON, com voto) para concretizar essa operação - quantidade próxima aos 41 milhões de papéis vendidos na oferta pública inicial (IPO, na sigla em inglês). Metade dessas novas ações será entregue aos fundos de investimento administrados indiretamente pela GP.
Os R$ 700 milhões captados no IPO continuarão no caixa da Hypermarcas e darão continuidade ao projeto de expansão da companhia, que deverá focar as áreas de saúde e higiene pessoal.
As ações ordinárias da Hypermarcas subiram 6% ontem, para R$ 23,31. Aparentemente, os rumores sobre a transação já estavam no mercado desde quarta-feira (28), quando os papéis saíram do patamar dos R$ 17,00, valor fixado no IPO, e começaram a subir e ganhar mais volume. Em sete dias, a ação tem alta de 32%.
Os Brazilian Depositary Recipts (BDRs) da GP avançaram 6,30% no pregão de ontem.
André De Vivo, presidente da Farmasa, afirma que o acordo é apenas "o primeiro passo para outros negócios maiores".
De Vivo, que é membro da família Samaja, fundadora do Farmasa, não revela que "novos negócios" podem sair a partir do acordo, mas acredita que mais fusões poderão acontecer.
De acordo com fontes, a parceria que a transação firma entre a Hypermarcas e a GP, conhecida no mercado pela sua habilidade na condução de negócios com visão de longo prazo, também foi comemorada pela companhia.
De Vivo conta que estava em negociação com a Hypermarcas desde que esta fechou a compra do laboratório DM, em junho passado. "Mas com a abertura de capital da empresa, as conversas esfriaram um pouco. Voltaram a ganhar força em novembro do ano passado, quando o GP passou a controlar metade da Farmasa", conta o executivo. O negócio teria sido desenhado nos últimos 40 dias.
"Juntas, Farmasa e Hypermarcas vão ganhar muita musculatura", diz o executivo. Um negócio complementa o outro, segundo ele. Enquanto a DM se concentrava em medicamentos sem receita, a Farmasa tem força em remédios vendidos com prescrição e também na linha hospitalar.
Estão no portfólio da Farmasa medicamentos conhecidos como o Magnopyrol e Rinossoro, entre os isentos de prescrição médica, e os antiinflamatórios Maxsulid e Mioflex entre os que precisam. A Hypermarcas conta com Benegrip, Apracur, Melhoral, Doril, Engov, Maracugina, Atroveran, Merthiolate, Gelol e Estomazil, entre outros.
Na semana passada, segundo informações do mercado, o Farmasa fechou a compra de outro laboratório, o Zurita, por valor ainda em sigilo. O Laboratório Zurita é o fabricante do Acnase, um dos medicamento de combate a cravos e espinhas mais conhecidos do mercado.
O faturamento bruto da divisão de medicamentos da Hypermarcas é de R$ 450 milhões, e a empresa estima um incremento em torno de R$ 300 milhões após operação com a Farmasa.
A transação também complementa os canais de vendas de ambas. A Farmasa tem como tradição iniciativas nos pontos-de-venda e também via propagandistas, que visitam mais de 100 mil médicos por mês. Já a Hypermarcas enfatiza a ação na mídia.
O laboratório Farmasa existe desde a década de 50 e passou por uma grande reformulação nos últimos anos, até interromper um processo de abertura de capital em novembro passado para se associar à GP.
Criada em 2002, a Hypermarcas realizou a oferta pública de ações em abril passado e encontrou condições difíceis de mercado e investidores cético. As ações saíram a R$ 17, valor inferior à faixa estimada, que ia de R$ 20,50 a $ 24,50. Além de medicamentos, a empresa também possui as marcas Assolan, Zero-Cal, Adocyl, Etti Monange, entre outros.
Valor Econômico
Nenhum comentário:
Postar um comentário