Num papel pré levado até o vencimento, não há exatamente como o investidor perder o capital aplicado como ocorre na renda variável. O pior dos mundos está, entretanto, na possibilidade de o Banco Central (BC) ser obrigado a elevar a Selic acima daquilo que o mercado está prevendo, a fim de conter as pressões inflacionárias. "Se a gente dá credibilidade à política econômica do governo, que os aumentos da taxa feitos pelo BC serão eficientes e vão surtir efeito na inflação de 2009, é hora de prefixar os investimentos", diz o superintendente de Tesouraria do Banif Banco, Rodrigo Trotta. Ele lembra, porém, que tal opção representa uma aposta e um risco e só no vencimento é que o aplicador saberá se foi ou não um bom negócio.
O Brasil tem condições de acomodar os choques inflacionários originados no front externo e as commodities, mesmo que continuem em alta, tendem a subir menos do que em 2007, espera o economista-chefe da Gradual Corretora, Pedro Paulo da Silveira. Considerando-se que o país ainda tem taxas de juros reais elevadas e acabou de ser alçado a grau de investimento não-especulativo, é de se esperar que o BC não tenha de subir tanto a Selic, argumenta. "Vai aumentar muito a demanda por títulos da dívida pública ao longo do tempo", diz, referindo-se ao capital externo.
Com o selo conferido pelas agências Standard & Poor's e Fitch Ratings, muitos fundos globais poderão endereçar parcela de seus recursos para o mercado brasileiro. Em tese, a maior procura pode significar preços mais altos, e, conseqüentemente, retornos menores para os títulos do Tesouro Nacional. Assim, o investidor local que se antecipasse à entrada desse dinheiro teria condições de levar para casa um ativo com remuneração melhor do que aquela que estará em vigor lá na frente.
Acertar qual o melhor momento para assumir exposição direta em taxas de juros (o chamado risco de mercado) não é uma tarefa corriqueira, adverte Silveira, da Gradual. Pode ocorrer de o investidor predeterminar o seu ganho agora e, daqui a duas semanas, esse retorno ficar comparativamente pequeno ao que a mesma LTN estará garantindo. Para quem quer evitar esse descompasso, a busca por um fundo de renda fixa ativo pode ser a melhor alternativa, sugere. O problema são os custos, já que, em geral, o investidor de varejo não consegue ter acesso a carteiras com taxas de administração baixas, pagando até 4%, 5% ao ano para delegar a administração da sua poupança a um gestor profissional.
No Tesouro Direto, há desde corretoras que não cobram pelo serviço, como Banif, Codepe, Socopa e Spinelli, até aquelas em que o custo é tão elevado quanto num fundo de varejo, caso de Itaú (4% ao ano) e Bradesco (4% mais R$ 25,00 por operação). Entre as corretoras dos grandes bancos, as taxas mais competitivas estão no HSBC (0,30%), Unibanco Investshop (0,35%), ABN Amro Real e Caixa Econômica Federal (0,40%), além do Banco do Brasil (0,50%). Em todos os casos, há ainda o custo de 0,40% ao ano da Companhia Brasileira de Liquidação e Custódia (CBLC).
No Unibanco há todo um incentivo para o investidor diversificar seu portfólio também com o Tesouro Direto. Tanto que, a exemplo do que fez o BB (que lidera o último ranking dos agentes de custódia), está em construção o acesso à compra e venda de títulos públicos pelo internet banking, conta o diretor da Unibanco Investshop Corretora, André Lissker. Junto com a tecnologia, ele sabe que será preciso semear a cultura de que a aplicação, apesar de ser de renda fixa, não é isenta de risco. "O aplicador tem de aprender que, no longo prazo, se ele não estiver num papel que segue o CDI, o investimento também está sujeito a solavancos", afirma.
Lissker considera o cenário atual ainda benigno. O Brasil tem trilhado o caminho da disciplina fiscal e mesmo com a balança comercial dando sinais de reversão, não há uma situação de risco para as contas públicas ou externas que coloquem em xeque a solvência do governo, pondera. Em meio às pressões correntes sobre o custo de vida e em pleno ciclo de aumento de juros, ele prefere os títulos atrelados ao Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), o indicador que baliza o sistema de metas perseguido pelo BC. Isso porque numa Nota do Tesouro Nacional série B (NTN-B, corrigida pelo índice oficial), os juros de longo prazo já incorporaram um ajuste significativo na Selic. "Os prefixados não seriam a minha primeira opção porque não embutem nenhum ganho real." Ontem, a NTN-B Principal (que paga juros e principal só no vencimento) garantia retorno de 6,94% ao ano, mais a inflação.
As Letras Financeiras do Tesouro (LFT, pós-fixadas), que acompanham a Selic na alta ou na baixa, são a opção mais conservadora no momento, diz o gerente da Coinvalores, Otávio Sant'Anna. Mas não custa nada ao investidor fazer um mix com as diversas alternativas disponíveis no Tesouro Direto. "Assim como numa carteira de ações, em que o portfólio pode ser composto com papéis mais arriscados e outros menos, o mesmo pode ser feito na parcela dos recursos destinada à renda fixa", compara. Para o perfil menos afeito a riscos, ele sugere de 70% a 80% em papéis pós, dividindo o restante em prefixados e títulos de inflação.
Lissker, da Unibanco Investshop, ainda lembra que tão importante quantos os custos e a remuneração é o prazo do investimento. Com papéis de menor duração, a aplicação fica mais suscetível a eventos inflacionários transitórios, seja nos prefixados, seja nos ativos indexados ao IPCA. Títulos com vencimento em mais de dois anos, sem pagamento de juros semestrais, também passam a se beneficiar da melhor alíquota da tabela regressiva de imposto de renda, que começa em 22,5% para intervalos de até 180 dias; 20% para investimentos entre 181 e 360 dias; 17,5% para prazos entre 361 e 720 dias, caindo a 15% nas aplicações em período superior.
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