terça-feira, 10 de junho de 2008

‘Petrobras é petróleo e outras coisas mais

sexta-feira ilustra bem isso. O primeiro vencimento de contrato futuro do barril do petróleo do tipo WTI, para julho, fechou o último pregão em Nova York a US$ 138,54, um recorde absoluto, com uma alta de 8,41% no dia. As ações da Petrobras subiram, mas comeram uma poeira e tanto se comparadas com a commodity. As preferenciais (PN, sem direito a voto) subiram ínfimos 0,06% e as ordinárias (ON, com voto) insignificantes 0,01%. Analisando um período maior, a distância é ainda mais ampla, com o petróleo indo para um lado e os papéis da companhia, para outro. Na semana passada, o barril subiu 8,79% e as PNs da estatal caíram 2,88%. Já no ano, os dois ativos vão para a mesma direção, mas com uma distância abissal: o petróleo sobe 44,34%, enquanto as PNs da companhia se valorizam 8,35%. Portanto, olhar o desempenho do petróleo e acreditar que o mesmo irá ocorrer com os papéis da Petrobras é, no mínimo, precipitado e arriscado.

Um levantamento feito pela consultoria financeira CMA, com os dados dos últimos seis meses, mostra que a correlação entre o preço do petróleo e da ação da Petrobras é de 0,48. Isso significa que, num intervalo de 100 dias, por exemplo, em 48 deles o papel da companhia e o barril caminham na mesma direção, subindo ou caindo. A analista da CMA Tânia Martins Pereira afirma que essa correlação é considerável, quase a metade, mas mostra que está longe de ser total, como muitos acreditavam que ela fosse.

Se a correlação não é total, a distância entre o desempenho dos dois ativos menos ainda. O estudo da CMA aponta que, nos últimos seis meses, apenas 23% da variação das ações da Petrobras se explica pela oscilação do petróleo no período. "A conclusão é que as ações da Petrobras nem sempre vão para a mesma direção que o petróleo e muito menos sobem ou caem na mesma intensidade que a commodity", diz Tânia.

Com base nessas estatísticas, a CMA também fez algumas projeções sobre para onde iriam as ações da estatal conforme o nível do petróleo. Se o barril caísse para US$ 115, por exemplo, as PNs recuariam para R$ 43,66, uma queda de 8,26% ante o seu fechamento na sexta-feira. Já se o petróleo voltasse para os US$ 100, as ações cairiam para R$ 39,44, uma desvalorização de 17,13%. "Como a correlação vale tanto para baixo quanto para cima, no caso de uma queda, as ações da Petrobras perderiam menos que o petróleo", completa a analista.

"Os investidores compram as ações da Petrobras achando, erroneamente, que ela é apenas petróleo e, no entanto, há vários outros fatores importantes na vida da companhia", diz o analista do Banco Geração Futuro de Investimentos Lucas Brendler. Um deles, e que se refere exatamente ao petróleo, é que a empresa tem uma política muito particular de preços, e não repassa imediatamente para os seus produtos os aumentos do barril. Em última instância, quanto mais o petróleo sobe e a estatal não reajusta seus preços, mais ela perde, e não o contrário, como muitos imaginam. "À medida que o preço do petróleo fica em níveis elevados e por muito tempo, maiores são as chances da Petrobras ter perdas no seu negócio de refino", lembra Brendler.

A série de novas reservas - algumas com potencial de exploração gigantesco - que a companhia brasileira vem anunciando também é um fator relevante, que faz suas ações descolarem do preço do petróleo e, nesse caso, para o bem. Para o analista do Banco Geração Futuro, são exatamente esses anúncios que mais têm pesado no desempenho positivo dos papéis nos últimos meses. E, mesmo com toda a valorização que já tiveram, as ações ainda têm muito para subir, por conta do quanto essas novas reservas irão agregar de produção para a companhia, acredita Brendler.

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