terça-feira, 10 de junho de 2008

Equipe tirada da Petrobras é 'garantia' para investidor

A experiência da equipe tirada da Petrobras a peso de ouro tem sido um dos pilares do argumento de venda da OGX Petróleo e Gás, empresa novata no setor e ainda sem reservas comprovadas.

Nas entrelinhas, os investidores têm lido que essa equipe possui mais do que simplesmente expertise técnico: tem também informações vindas de dentro da estatal que poderiam aumentar o grau de certeza de que há petróleo nos blocos arrematados.

Além de técnicos e diretores, é egresso da Petrobras o presidente da OGX, Luiz Rodolfo Landim, ex-presidente da BR Distribuidora. Na estatal, ele participou da implementação dos campos de Marlim, Barracuda, Albacora e Roncador. De 2006 a março deste ano, Landim presidiu a MMX.

Com o respaldo desse time dos sonhos do setor petrolífero, a OGX vem tentado convencer o mercado de que não está vendendo só promessas.

O que Eike Batista, dono da OGX, e seus assessores financeiros têm dito aos investidores é que seus "recursos potenciais" - 4,8 bilhões de barris equivalentes de óleo e gás, segundo estudo da empresa especializada DeGolyer & MacNaughton - constituem uma estimativa bastante conservadora, com uma probabilidade média de sucesso na exploração dos poços de 27%.

A OGX alega que sua equipe de exploração, toda ela vinda da Petrobras, obteve taxa de sucesso de 53% nos últimos quatro anos enquanto trabalhava para a estatal.

A maioria dos analistas de ações que cobre o setor de petróleo e gás está impedida de comentar a operação OGX porque praticamente todos os bancos e corretoras do mercado estão envolvidos no esforço de venda aos investidores (apenas os chamados qualificados, que terão que investir no mínimo R$ 300 mil na companhia). Esse fenômeno, que deixa o investidor sem orientação independente, se repete em todas as ofertas.

Nelson Rodrigues de Matos, analista da corretora do Banco do Brasil, é um dos poucos liberados para comentar. Para ele, o investidor que adquirir ações da OGX vai comprar o risco de se explorar ou não petróleo nos blocos. "Uma empresa de petróleo vale pelas reservas que tem, mas a OGX ainda não possui nenhuma comprovada. Então, o que há a fazer é confiar nos cálculos da consultoria internacional contratada para fazer as estimativas e na capacidade dos técnicos trazidos da Petrobras", diz.

No prospecto da oferta da OGX, a empresa argumenta que os blocos que possui ficam colados em outros de onde a Petrobras já extrai petróleo, o que aumentaria as suas chances de sucesso. "Embora essa proximidade não seja garantia de nada, é um bom indicativo", diz Matos. Mas ele lembra que a Bacia de Campos, a maior área produtora do país, onde a OGX tem sete blocos, já é operada há muito tempo e os seus principais campos já foram explorados.

Nas conversas com investidores, assessores financeiros da OGX têm defendido que a comparação com Petrobras não é justa porque a estatal é negociada com um desconto expressivo justamente por conta das interferências estatais em sua governança, cuja face mais visível é o controle sobre os preços da gasolina e diesel.

"Se a Petrobras fosse privada, poderia valer pelo menos o dobro", disse recentemente um executivo envolvido na transação. Já a OGX virá a mercado seguindo os padrões máximos de governança. Suas ações, todas ordinárias, serão listadas no Novo Mercado da Bovespa.

"Uma opinião de fato sobre o valor da empresa poucos conseguem ter", diz a analista Leila Almeida, da consultoria Lopes Filho. Por se tratar de um projeto, não é possível calcular o preço da empresa pelos métodos tradicionais. Mas esse não será o primeiro projeto que vem a mercado ainda embrionário com o objetivo de levantar recursos e deslanchar os planos. "No fim, essa é uma finalidade do mercado de ações." A própria MMX de Eike Batista é um exemplo até agora muito bem-sucedido.

Em dezembro, o empresário fez uma rodada de venda privada de ações da OGX e conseguiu captar US$ 1,3 bilhão ao atrair investidores de peso, entre eles o fundo de pensão dos professores de Ontário, no Canadá, o fundo UBS Prestige e o banco Morgan Stanley. A Centennial Asset Mining, de Eike, mantém 72,73% do capital da companhia antes da oferta desta semana. Depois dela, poderá ficar com fatia entre 58% e 62%, dependendo do número de ações efetivamente vendidas. Os recursos levantados em dezembro foram aplicados na compra dos blocos leiloados pela ANP e serão usados ainda nos primeiros estudos exploratórios das reservas.

Com o dinheiro que pretende levantar agora, Eike Batista quer dar continuidade aos estudos exploratórios, investir em novos blocos e começar a desenvolver as "descobertas esperadas".

"O investidor que comprar ações da OGX estará adquirindo coisas menos palpáveis, como a qualidade dos executivos, a capacidade de Eike Batista de entregar bons negócios e, claro, o cenário promissor do petróleo no Brasil", diz um analista. A julgar pela quantidade de investidores que, comenta-se, querem um pedaço da OGX, Eike não tem com o que se preocupar.


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