sexta-feira, 13 de junho de 2008

Controladores querem manter participação na Vale

Os atuais acionistas da Vale deverão acompanhar o aumento de capital da companhia, comprando ações na oferta de US$ 15 bilhões pretendida pela mineradora. No entanto, alguns analistas não descartam a possibilidade de a operação resultar em mudanças na posição de controle da empresa existente hoje.

"A operação já foi aprovada pelo conselho da empresa e, se foi encaminhada a ele, é porque havia consenso sobre a necessidade. Acredito que todos irão acompanhar a operação", afirma Pedro Galdi, analista da corretora SLW. Leonardo Alves, analista da Link Corretora, lembra que a Valepar terá necessariamente de acompanhar a oferta. "A holding detém fatia de controle de 52,3% da Vale e qualquer pequena diluição poderá significar a perda deste status."

Há a avaliação de que os acionistas controladores da Vale, abrigados na Valepar, terão que pegar dinheiro no mercado para participar do aumento de capital. Em um cálculo preliminar, só a Previ, fundo de pensão do Banco do Brasil, maior acionista, com 18% do capital total da Vale, vai ter que desembolsar US$ 2,7 bilhões se não quiser diluir sua participação.

A Bradespar, segundo maior acionista da Valepar, tem uma fatia de 5,7% do capital total da Vale e vai ter que captar no mínimo US$ 855 milhões. O mercado já trabalha com a expectativa de que a Bradespar realize a já anunciada intenção de se desfazer da participação de 9% nas ações da CPFL para se capitalizar.

A japonesa Mitsui tem também uma fatia de 5,7% no capital total da companhia, necessitando portanto de US$ 855 milhões para entrar na oferta primária. O BNDES detém 3,5% e, portanto, deve desembolsar US$ 525 milhões. No total, os acionistas deverão levantar cerca de US$ 5 bilhões para acompanhar a operação de US$ 15 bilhões da Vale.

Entretanto, segundo fontes do setor financeiro, são possíveis vários arranjos dentro da Valepar. A Previ e o BNDES, por exemplo, podem se articular para que o banco aumente sua posição, enquanto a Previ mantém a sua.

Isto é possível, dizem analistas. A Previ possui 49% das ações ordinárias da Valepar e 100% das preferenciais (que correspondem a 8% do capital total da holding) tendo portanto 57% do capital total da controladora da Vale. Como nenhum acionista isoladamente pode deter mais de 49% das ações ordinárias na Valepar, estas ações preferenciais (que eram ordinárias e viraram preferenciais para a Previ obedecer o limite de participação na holding) podem ser vendidas a algum outro controlador.

Neste caso, elas são imediatamente reconvertidas em ordinárias. O BNDES pode se candidatar a comprar estes papéis para ampliar sua presença no controle da mineradora, sem a Previ colocar a mão no bolso no aumento de capital pretendido pela Vale.

A japonesa Mitsui também poderia se candidatar a adquirir estas ações, mas, por ser estrangeira, suas chances são vistas como reduzidas pelas fontes ouvidas pelo Valor. O mais provável, porém, seja que Previ e BNDES se articulem para o banco ampliar sua presença no bloco de controle garantindo assim que a Vale se mantenha como uma empresa de capital nacional. Esta foi uma das exigências do governo brasileiro quando a Vale estava negociando a compra da Xstrata.

Outra negociação que poderá rolar internamente na Valepar seria dentro da Litel, a Sociedade de Propósito Específico (SPE) criada para abrigar a Previ e os fundos de pensão Petros, Funcef e Cesp. A Previ tem 80,62% da Litel e os outros três fundos participam com 19,37% no veículo, por meio de um fundo de investimento. A Petros, por exemplo, detém 6,95% da Litel e seus dirigentes gostariam de ampliar esta fatia, garantindo uma presença maior no bloco de controle. Portanto, a chance de um rearranjo dentro da Litel não é descartada, aproveitando a oferta primária.

O analista do JP Morgan Rodolfo R. de Angele, prevê em relatório que a oferta estará estruturada até meados de julho. Ele não espera que os acionistas controladores tenham diluição de suas participações. O JP Morgan destaca que a nova oferta pavimenta o caminho para novas aquisições da Vale. Para o analista, a brasileira sabe muito bem o que quer. Ela busca ativos de cobre e carvão, principalmente. Em segundo plano, de alumínio, desde que seja produzido com energia a baixo preço. Neste contexto, uma opção pela Freeport McMoran Copper & Gold é correta, pois ela é a sétima produtora mundial de cobre. A Xstrata e a Anglo American representam as melhores aquisições por serem grandes empresas diversificadas.

Já relatório do banco de investimento Merrill Lynch divulgado ontem insiste na Xstrata como o alvo preferencial da Vale. O negócio, com um valor de mercado da Xstrata de US$ 80 bilhões e mais prêmio de 25%, poderia alcançar US$ 100 bilhões.

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