quinta-feira, 5 de junho de 2008

Petrobras puxa o ganho e também a perda do Ibovespa

Boa parte da alta recente do índice Bovespa foi puxada por Petrobras. De 31 de março para cá, o papel preferencial (PN, sem voto) da estatal subiu 22,71%. Mas apenas nesta semana, a queda já chega a 7,6% em três dias, reduzindo o ganho do papel no acumulado do ano para 3%.

Durante o ano, além da alta do petróleo, o papel foi beneficiado pela dupla elevação do país a grau de investimento de baixo risco - o que provocou um descolamento do Ibovespa em relação às commodities - e um período sem más notícias na economia americana, lembra Ronaldo Patah, da Unibanco Asset Management (UAM). "Entre os dois graus de investimento, o Ibovespa passou de 64 mil pontos para 74 mil, uma alta de 15% em pouco mais de um mês, e boa parte disso foi Petrobras", lembra. Agora, diz, há notícias ruins vindo no setor financeiro americano, as commodities em queda e ainda o risco de alta maior dos juros no Brasil.

Patah mantém a projeção de 80 mil pontos para o Ibovespa no fim deste ano, o que significaria um potencial de alta de 16,5%. "Mas esse ganho já começa a ficar menos atrativo se comparado aos juros, que podem subir para 13% ao ano", lembra. Diante do risco maior do mercado acionário, Patah recomenda setores mais defensivos, como o elétrico e bens de capital - como Romi, Ioschpe -, além de commodities, caso de VCP e a própria Vale, mais atrativa depois das quedas.

O que estava carregando o mercado brasileiro eram as commodities, mas especialmente a Petrobras, turbinada pelas novas descobertas e pelo preço do petróleo, lembra Lika Takahashi, analista chefe da Fator Corretora. "Mas os sinais de que o dólar não vai mais continuar se enfraquecendo no exterior elimina um dos fatores de alta das commodities e o mercado têm de realinhar suas expectativas", explica Lika. E isso fez os preços das commodities, em especial o petróleo, recuarem.

Ironicamente, essa queda é positiva para a economia mundial, pois reduz a pressão inflacionária, especialmente nos países emergentes asiáticos, onde alimentos e petróleo chegam a representar 30% no custo de vida. Lika diz que a queda da Bovespa mostra que a tese do descolamento dos emergentes da crise voltou a se mostrar discutível. "Não somos tão invencíveis assim."

Ela lembra que ainda há fatores de risco adiante, como o ambiente de crédito nos Estados Unidos, que volta a ficar preocupante pelos problemas no mercado financeiro. "Essa transmissão da crise dos bancos para a economia real está só começando", diz. E há ainda os fatores internos, como a alta dos juros e sinais de inadimplência crescendo em alguns setores. "Nessa incerteza, o Ibovespa pode ficar variando entre 68 mil a 75 mil pontos por um bom tempo" diz. Lika acha que há oportunidades na bolsa, mas na segunda ou terceira linha. "Eu ficaria menos concentrada em Vale e Petrobras." Entre as barganhas, ela cita Weg, as concessionárias de energia, Localiza e Eternit. "São setores mais defensivos, já que o momento é de mais cautela".

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