terça-feira, 10 de junho de 2008

O otimismo exagerado e o excesso de transações

Aquiles Mosca
Há grande evidência em estudos psicológicos de que temos a tendência de atribuir um otimismo exagerado a nossa própria sorte. Inexplicavelmente, acreditamos que, em se tratando de nós mesmos, a lei das probabilidades não se aplica. Em 1975, Langer promoveu uma experiência que mostrou que as pessoas estão dispostas a pagar o dobro por um bilhete de loteria se elas mesmas foram responsáveis pela escolha dos números ante a alternativa de comprar um bilhete cujos números foram escolhidos aleatoriamente. Ao agir de tal forma, os indivíduos demonstram acreditar que têm o dobro de chances de vencer se eles mesmos escolheram os números e estão dispostos a pagar o dobro por tal benefício, muito embora a probabilidade de vencer, qualquer que seja a origem dos números apostados, é a mesma, ou seja, baixíssima.

O otimismo com relação à própria sorte não é sempre prejudicial. Ele nos ajuda a manter a confiança, a serenidade e a esperança ante as incertezas. Contudo, quando lidamos com investimentos, o otimismo exagerado pode ter efeitos perversos sobre o processo decisório quando alimenta expectativas irrealistas ou se leva o investidor a ignorar riscos relevantes.

Quando o assunto é investimento, esse fenômeno faz com que concentremos a atenção no potencial de alta dos ativos, subavaliando a possibilidade de baixas. O otimismo exagerado têm como conseqüência direta o excesso de negociações ou excesso de trading.

Ter confiança exagerada na própria capacidade de gestão de recursos leva, por exemplo, milhões de investidores no mundo todo a optarem por gerir sua própria carteira de ações em vez de investir em um fundo de investimento que simplesmente reproduza um benchmark ou índice referência como o Ibovespa no caso da Bolsa de Valores de São Paulo. Esses investidores acreditam ser capazes de identificar ações que terão uma performance superior a do próprio mercado acionário.

Para comprovar essa hipótese, Barber e Odeon (2000) prepararam um estudo emblemático sobre esse comportamento. Analisando os movimentos de 66.465 clientes de corretoras de valores nos EUA entre fevereiro de 1991 e janeiro de 1997, os autores constataram uma taxa média de giro anual das carteiras de ações desses indivíduos de 75%, ou seja, a cada ano o volume de compras e vendas de cada investidor foi equivalente a três quartos do valor da carteira de aplicações desses investidores. É evidente que tal atividade tem um custo para o investidor, afinal, a cada movimentação, diversas despesas, além de impostos, são incorridas.

No caso dos quase 67 mil investidores que fizeram parte do estudo, essa movimentação de compra e venda, cujo objetivo primordial é agregar retornos extraordinários a suas carteiras de investimento, teve um custo de 1,9% ao ano, drenando parte dos rendimentos obtidos no período. Isso é bem mais do que os parcos 0,8% ao ano de rendimento que conseguiram obter acima do índice de referência que buscavam superar. Isto é, em cada um dos seis anos analisados, na busca por "barbadas" e retornos extraordinários, os investidores influenciados por otimismo e excesso de confiança, obtiveram uma performance que foi em média 1,1% abaixo do que teriam ganho caso tivessem simplesmente investido seus recursos em um fundo passivo que acompanhasse o indicador de referência (nesse caso o índice era o S&P 500).

Se levarmos em conta que as carteiras de ações desses investidores assumiram riscos na busca por retornos, os autores demonstram que o retorno ajustado pelo risco desses portfolios foi inferior ao retorno do índice de referência em 3,7%. Em outras palavras, o risco que tais investidores incorreram ao tentar obter retornos superiores ao oferecido pelo mercado não foi remunerado. Pelo contrário, esses riscos comprometeram os resultados das carteiras.

Outra conclusão importante do estudo é que os investidores mais ativos, ou seja, aqueles que compraram e venderam mais e por mais vezes no período, com 120% de giro médio anual de suas carteiras, tiveram uma performance pior que os demais investidores estudados. Esses indivíduos extremamente ativos em suas movimentações tiveram retornos anuais 4,9% abaixo do índice de referência antes de considerar o risco incorrido e 7,0% abaixo do benchmark depois de ajustar o retorno ao risco. Esse estudo é mais uma demonstração de que a bolsa de valores tende a premiar o investidor paciente e disciplinado e que o excesso de iniciativa tem um custo não desprezível para a carteira de aplicações.

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