Luiz Codorniz
A mídia, ao comentar os conselhos de Warren Buffett, costuma enfatizar a estratégia apregoada por ele de comprar e manter as ações para sempre. Isso se aplica mais às operações de investimentos e aquisições da Berkshire Hathaway. Mas, no que tange aos investimentos de sua carteira pessoal (1% do seu patrimônio), ele age diferente. Ou seja, coexistem duas estratégias de investimento, e isso deixa confusos os investidores.
O que falta considerar é o contexto. Essa estratégia é adequada para a Berkshire, que tem ativos totais de US$ 281 bilhões, dos quais US$ 73 bilhões em ações e US$ 74 bilhões em caixa e renda fixa. Obviamente, esse não é o contexto de 99,9999% dos investidores. Além disso, não faz muito sentido girar uma carteira desse tamanho e concentrada, devido aos impostos sobre ganhos de capital; à dificuldade em encontrar uma alternativa melhor do que aquela que está sendo vendida; e ainda à necessidade de executar as operações sem que o mercado perceba.
Ao longo de sua carreira de mais de cinco décadas, Buffett foi alterando a sua estratégia de forma a adequá-la ao seu contexto em evolução. No inicio, entre 1956 e 1969, ele foi gestor do hedge fund Buffett Partnership Ltd., cujo enfoque é aquele preconizado no livro "Security Analysis", de Ben Graham, e o tipo de investimento são barganhas e "situações especiais". Na década seguinte, ele passou a utilizar como veiculo para seus investimentos a Berkshire Hathaway e incorporou na sua estratégia aspectos qualitativos seguidos por Philip Fisher, autor de "Common Stocks and Uncommon Profits", que enfatiza vantagens competitivas sustentáveis e duradouras.
Na assembléia de acionistas da Berkshire de 2008, perguntaram a Buffett sobre como ele investiria uma pequena quantia, que estratégias ele usaria. Ele disse que provavelmente as oportunidades estariam em "small caps" ou debêntures em situações especiais. Na assembléia de 2006, Buffett comentou: "Três anos atrás você encontrava um bom número de empresas coreanas com sólidos balanços sendo negociadas a um índice P/L de 3". E ele comprou uma cesta (ao redor de 20 empresas) dessas ações coreanas com baixo índice P/L e alavancagem para sua carteira pessoal. Essa estratégia é similar àquela sugerida por Ben Graham há mais de 70 anos, denominada "net-nets", que consiste em comprar uma cesta de ações cujo valor de mercado é inferior ao somatório do caixa mais o capital de giro líquido menos o passivo de longo prazo.
Valor Econômico
Nenhum comentário:
Postar um comentário